Conto: Amores ébrios
- Margarete Bretone

- 18 de fev. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2021
O movimento estava deixando-a enjoada. Fechou os olhos sentindo o corpo em movimento. A cada passo que ele dava ela prendia um pouco a respiração. Sentiu dor na cabeça e imediatamente levou a mão para uma massagem. Inacreditável, ele teve a capacidade de não desviar do batente da porta e ela recuperou o dom da voz, perdida até aquele momento.
- Merda! É sério isso?
A pergunta saiu enrolada, alta, acompanhada de um arroto alto demais para uma pessoa tão pequena.
- Vou te largar no bar na próxima vez, quero ver reclamar.
Ele retorquiu ao coloca-la sobre a cama e ela mostrou a língua em um gesto infantil enquanto tentava arrancar a calça jeans que mais parecia uma segunda pele grudada no quadril. Precisava tirar aquela roupa desconfortável para poder dormir. Ouviu um risinho e dessa vez mostrou o dedo do meio.
- Vai embora, seu cretino.
- Não senhora. Vim aqui com um propósito e não saio daqui antes disso.
Ela fechou os olhos ao perceber que ele se afastava e o som de água começou a preencher o quarto, reverberando nos ouvidos e deixando-a cada vez mais sonolenta.
- Me ajudar a chegar em casa e... me dar um banho?
- Não, querida, usar a sua banheira.
- Não vou conseguir ficar acordada até que ela fique cheia.
- Quem disse que estou enchendo pravocê?
Ela apenas resmungou, o sono vencendo-a de forma rápida e eficaz.
- Se bem que... você poderia dormir no outro quarto, né?! Acho que ainda consigo atrair o gato pra cá...
- Ele deve estar por aí. – ela gesticulou já sem forças para erguer corretamente o braço.
- Quem?
- Ulisses, o meu gato.
- Ai, que merda, você sabe que sou alérgico a gatos.
- Mas você falou...
- Cala a boca e dorme. Minha noite está perdida mesmo e você me deve uma, minha cara. Onde já se viu eu ter que sair do bar com uma mulher pendurada no meu pescoço...
O ronco ecoou pelas paredes.







Comentários