Conto: Antiquário

Eu corri para fora querendo ainda ficar lá dentro. Tocar com as pontas dos dedos cada peça que me chamava a atenção. Meus olhos não paravam, estavam afobados, afoitos por descobrir algo novo.

Novo. Maneira estranha de falar, mas se era algo que nunca estivera ali, seria novo, não?

Novo na coleção, nova peça para exposição e deleite a muitos, que como eu, ama trecos de outra época.

Eu queria ouvir a estação que estava sintonizada no rádio prestes a ser ligado, antigo, muito antigo, mas mesmo assim brilhava um glamour que eu desconhecia.

Ele caberia exatamente entre o vaso que eu sempre enchia de flores e o porta retratos que estampava uma família que eu não mais conhecia. Cada um tinha seguido seu caminho, mas a foto era a prova de que um dia os passos percorridos eram parceiros um do outro.

Ele caberia ali, assim como o antigo. Antigo mais antigo. Confusão doida explicar que um rádio antigo substituiria um rádio antigo, ainda mais quando uma caixa acústica pequena que responde a comandos de voz já supre essa necessidade.

Necessário mesmo era ter algo que me lembrasse de pessoas, que sorriram ao girar o botão, dançaram em uma sala pequena demais ou que prenderam a respiração ao receber notícias nada boas. Era essa sensação que eu buscava.

Entre prateleiras, balcão e o homem sorridente que me dizia ser aquela uma boa escolha eu buscava algo que me remetesse à época em que cabelos grisalhos em um rosto vincado me convidavam a sorrir. Mal sabia ele que eu não tinha escolha, o momento era aquele e eu não podia perder.

Mas antes precisei correr, o cachorro safado que havia me adotado não parava de latir e eu precisava evitar algum incidente. Corri para fora e quase caí.

Em pé ao lado do cão que agora abanava o rabo estava uma lembrança feliz, como a estampada em uma foto antiga.

Eu realmente não tinha escolha e o reencontro soou como música.

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