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Conto: Amor em botão

  • Foto do escritor: Margarete Bretone
    Margarete Bretone
  • 4 de jul. de 2023
  • 2 min de leitura

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Aquela agulha era tão pequena, tão fina e com a abertura tão ínfima que passar a linha havia sido um sacrifício. Se não fosse exagero demais, diria até que foi um “suadeira só” para conseguir algo tão bobo.

Se não estivesse em meio a uma emergência, os olhos não estariam apenas lacrimejantes, ela estaria literalmente derramando todas as emoções do momento.


Quem imaginaria que um vestido tão lindo, tão caro e tão bem elaborado teria que ser costurado de forma tão improvisada?

Ela sabia que levar alguns itens para situações emergenciais era muito importante, mas a caixinha cheia de alfinetes, linhas e agulhas tinha ficado em cima da mesa. Ainda não entendia como a tinha deixado para trás.


Ter ficado horas no cabeleireiro, saído correndo de lá sem prestar muita atenção ao que tinha pelo caminho talvez fosse uma justificativa.

Quem imaginaria que uma fileira de botões simplesmente sairiam voando do vestido?

Só faltavam dois botões e tudo ficaria no seu devido lugar.


Respirou fundo contendo a vontade de chorar um pouquinho, mesmo colocando em risco a maquiagem tão bem feita que escondia as marcas de expressão, que ressaltava bochechas rosadas que nunca tivera.

Só mais um botão…


Suspirou. Era o momento de deixar a filha seguir seu caminho, pular para fora do ninho, mas a sensação se avolumou no peito e ela precisou parar por breves instantes, o corpo todo queria expressar tudo o que afundava o peito, revirava as entranhas e saltava os olhos.


Mãos a seguraram pelos ombros e um beijo foi depositado em sua testa e então a emoção tomou conta. Lágrimas, soluços e o corpo todo reagiu. A agulha minúscula perdida entre rendas e bordados, o botão meio pendurado no tecido fino e delicado, mas ninguém ligou.


Aquele momento representou toda uma vida de dedicação, de um amor que extravasa do peito, de um laço tão firme que nada seria capaz de desmanchar.

Mãe e filha, abraçadas em frente ao espelho que emoldurava uma paisagem campestre de uma tarde de primavera.


Elas não viram, mas a fotógrafa captou a imagem, o amor sem limites, que surgiu quando uma delas devia ser ainda menor que o botão pendurado no vestido. Aquela foto não superaria nenhuma outra. Nada superou a emoção que elas emanavam naquele momento.

Só delas.


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