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Conto: Lembranças na pele

  • Foto do escritor: Margarete Bretone
    Margarete Bretone
  • 1 de set. de 2022
  • 1 min de leitura

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Ela era como uma lembrança mergulhando na escuridão. Queria contar as estrelas brilhando no céu , mas não era capaz, nunca seria. Sabia perfeitamente que os milhares de pontos brilhantes não poderiam ser enumeradas, mas seria uma maneira de focar em algo além das dores nos braços e pernas, na sensação de que em breve afundaria.


Tudo aconteceu muito rápido, ainda podia ouvir a música soando livre, envolvendo como vida em sua essência para em seguida virar silêncio, virar solidão.

Beethoven, Elvis, macarrão, queijo, pão… eram coisas que se obrigava a pensar para não afundar. Precisava se apegar a vida, as lembranças, mas o que mais sentia era desesperança.


Gritou, gritou um pouco mais, mas naquele mar a voz era como uma marola engolida por um glutão. Ninguém a ouvia, ninguém viria e ela afundaria. Um triste fim para quem sequer tem um começo. A vida é estranha as vezes, as lembranças se infiltram na pele, flutuam ao seu redor e desaparecem na vastidão, mas ela queria viver o presente, daqueles que cutucam a pele como um arranhão.


E então ela ouviu, como um apelo para não desistir, vozes como chamas, inflamando.

Gritou mais uma vez.

Talvez se esticasse o braço…

Afundou e pensou “chegou o fim”,


Beethoven, Elvis, macarrão, queijo, pão…


Elvis, macarrão, queijo, pão…


Macarrão, queijo, pão…


Queijo, pão…


Pão…


mas então algo quentinho a tocou, a encheu de esperança ao puxar para cima, para a vida, para o dia que acabava de raiar.

 
 
 

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© 2018 por MARGARETE BRETONE

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