Conto: Referência
- Margarete Bretone

- 12 de jan. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: 27 de mai. de 2021
Ela queria vestir esperança, mas não sabia com certeza a cor que a representava. Todos os anos usava uma cor, ou a falta dela, camuflada entre tantos, emanando paz. As vezes com as palavras impressas no peito.
Fuçou a carteira, bolsas antigas esquecidas no armário, fundo de gavetas e até um pote de vidro improvisado como cofrinho, mas o que coletou não dava para pagar o vestido amarelo, reluzente na vitrine da loja na esquina da avenida.
Ela queria ser referência, “Tá vendo aquele ponto amarelo na multidão? É só ir naquela direção.” Mas só foi capaz de ficar parada em frente ao vidro, como naqueles filmes em que a pessoa fica observando o próprio reflexo, imaginando-se naquela pele e suspirou. Imaginou o tecido sedoso, o perfume sendo levado pelo vento, assim como a saia diáfana, esvoaçante.
Ouviu um assovio, um latido, uma música e no tempo de um pestanejar voltou a caminhar.
Teria que vestir branco desejando ser o ponto.







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